sábado, 5 de julho de 2025

DEPRESSÃO: UM POÇO QUE TAMBÉM LEVA À LUZ

 


A depressão não é apenas um estado de tristeza ou apatia. É um chamado profundo do ser, um sinal de que algo essencial está retraído dentro de nós. Quando não manifestamos nossos talentos, nossas emoções se silenciam, e o corpo começa a responder com cansaço, desânimo e uma sensação de desconexão da vida. A alma, por natureza, é criativa, vibrante, cheia de potencialidade. Quando essa vibração se retrai, sentimos como se tudo perdesse cor e sentido.

Há quem explique a depressão por um ponto de vista químico, outros pelo emocional. Mas em qualquer caso, há algo em comum: uma perda de contato com a essência. A vivacidade do ser se apaga. Aquela centelha interior que antes impulsionava a ação, a esperança e o brilho nos olhos parece ter sido sufocada. E o mais difícil é que, muitas vezes, ninguém ao redor percebe a profundidade desse silêncio.

Entrar nesse estado é como descer um poço. Um poço escuro, silencioso, frio. No começo, parece apenas um afastamento leve, um recolhimento. Mas se não houver um gesto de volta, um impulso mínimo de reação, esse mergulho pode se tornar mais fundo e mais escuro. E o mais desafiador: é de lá que a própria pessoa terá que subir. Ninguém pode escalar o poço por ela. Pode haver apoio, amor, presença — mas o primeiro passo para sair deve vir de dentro.

Por isso, é tão importante perceber o momento certo de parar de descer. De interromper o movimento que nos leva ao fundo e olhar para fora. Pode ser difícil, doloroso, quase impossível. Mas mesmo nos dias mais escuros, uma fagulha ainda vive. Uma lembrança, uma música, uma memória que aquece, um gesto de carinho que resta. Essa fagulha é o início da saída. É ela que precisa ser alimentada com o mínimo de vontade, com o sopro da intenção.

Buscar o brilho nos olhos — ainda que quase apagado — é um ato de coragem. Permitir-se sentir uma pequena satisfação, um breve momento de conexão com algo que ainda faz sentido, pode ser o primeiro passo. Não precisa ser um salto. Basta um movimento suave, como um girassol que, mesmo cansado, gira o rosto na direção da luz. A direção, nesse caso, é tudo.

O que floresce o ser não é a ausência de dor, mas o reencontro com o propósito. Quando você começa a lembrar quem é de verdade, algo desperta. Você não é a tristeza que sente, nem o medo que te paralisa. Você é a consciência que observa isso tudo e que, silenciosamente, deseja voltar a viver. Voltar a sentir. Voltar a ser.

Mesmo quando tudo parece cinza, há um campo invisível ao redor de você esperando seu retorno. A energia da vida nunca abandona quem a busca. Mas ela respeita o tempo de cada um. A fagulha não te pressiona — ela apenas espera o seu sim. Um sim silencioso, às vezes doloroso, mas cheio de potência. Esse sim é o que impede a descida, é o que abre espaço para a cura.

Lembre-se: você não está quebrado. Está em pausa. E toda pausa traz consigo o potencial de renascimento. Às vezes, é preciso se recolher para se reconhecer. Mas não se esqueça de sair. Não se acostume com o fundo do poço. Ele não é sua casa. Ele é apenas um lugar de passagem. O caminho de volta começa com um olhar — o seu próprio, voltado para dentro com ternura.

Se neste momento você sente que tudo está difícil, respire fundo. Coloque a mão sobre o coração e diga a si mesmo: “Ainda há uma luz em mim.” Essa frase simples pode ser o início da subida. Ninguém pode sentir por você, mas muitos podem torcer e segurar sua mão enquanto você escolhe viver de novo. A fagulha ainda está aí. E basta um sopro de intenção para que ela volte a iluminar o seu caminho.

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